Testes genéticos no autismo e raros - qual a importância
- Berenice Cunha Wilke
- 1 de out.
- 4 min de leitura
Atualizado: 4 de out.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) ainda é diagnosticado, na prática clínica, pela avaliação do comportamento e do desenvolvimento. Mas em muitos casos, a origem está em alterações genéticas específicas, e os testes moleculares se tornaram fundamentais para esclarecer o diagnóstico, orientar condutas e planejar o futuro da família.
🌟 Por que fazer os testes genéticos?
Muitos pais se perguntam: “Se o tratamento do autismo continua sendo terapias e acompanhamento médico, por que investigar a genética?”. Na prática, os exames oferecem uma série de benefícios que vão além do diagnóstico clínico:
🔍 1. Dar um nome à condição
Identificar a mutação traz clareza e permite comparar casos semelhantes em todo o mundo, ajudando a entender a evolução clínica e complicações associadas.
📈 2. Prognóstico mais preciso
O diagnóstico molecular permite prever riscos adicionais como epilepsia, regressão, alterações cardíacas, renais ou metabólicas.
Estudos mostram que famílias com diagnóstico genético confirmado conseguem planejar melhor o cuidado.
🧪 3. Acesso a pesquisas e terapias emergentes
Muitos ensaios clínicos só recrutam pacientes com mutações específicas (ex.: SYNGAP1, DEAF1, TSC1/2).
O diagnóstico dá acesso a pesquisas internacionais, medicamentos reutilizados (drug repurposing), terapias celulares e até técnicas experimentais de edição genética (CRISPR).
👨👩👧 4. Planejamento familiar
Esclarece o risco de recorrência em futuras gestações, permitindo aconselhamento genético e até exames pré-natais ou reprodução assistida.
💊 5. Tratamento mais direcionado
Algumas mutações respondem melhor a suplementos ou medicamentos específicos.
Exemplo: mutações mitocondriais podem se beneficiar de coenzima Q10, carnitina ou creatina.
Além disso, pesquisas atuais mostram que medicamentos já existentes podem ser reutilizados (drug repurposing) para determinadas mutações genéticas associadas ao autismo.
Exemplo: memantina (usada no Alzheimer) tem sido testada em mutações como SYNGAP1.
Rapamicina e seus derivados estão sendo estudados em esclerose tuberosa.
Valproato ou moduladores de canais iônicos em mutações relacionadas à epilepsia associada ao TEA.
Essa abordagem integra a chamada medicina de precisão, na qual terapias, suplementos e medicamentos são escolhidos de acordo com o perfil genético individual.
🌍 6. Integração com a comunidade científica e apoio entre famílias
O diagnóstico conecta a família não apenas a médicos e pesquisadores, mas também a outras famílias que vivem a mesma condição genética.
Hoje existem grupos ativos em mídias sociais (WhatsApp, Facebook, Telegram, fóruns internacionais) que permitem:
Troca de experiências sobre terapias e evolução clínica;
Apoio emocional entre cuidadores;
Compartilhamento de pesquisas e convites para ensaios clínicos;
Campanhas de arrecadação para financiar ciência.
🧠 7. Alívio emocional e validação
Saber a causa genética reduz a sensação de culpa e incerteza.
Dá à família um sentido de pertencimento e esperança realista.
⏳ 8. Atualização contínua
A ciência avança rápido: genes sem associação hoje podem ser ligados ao autismo no futuro.
Recomenda-se reavaliar o exoma a cada 3–5 anos, o que pode trazer novos diagnósticos sem nova coleta.
🧪 Principais testes genéticos
Exame | O que analisa | Destaque | Indicação |
Cariótipo | Todos os cromossomos | Alterações grandes | Suspeita de anomalias clássicas |
FMR1 (X-Frágil) | Gene específico | Principal causa monogênica de TEA e deficiência intelectual. Diagnóstico em até 2 a 6% dos casos com suspeita de autismo. | Quando há deficiência intelectual ou histórico familiar |
Microarray (CGH/SNP-array) | CNVs (deleções/duplicações) | Diagnóstico em até 10% dos casos | TEA com DI, dismorfismos ou cariótipo normal |
Exoma (WES) | Genes codificantes (1–2% do genoma) | Elucida 10–20% dos casos de TEA | Casos sindrômicos, com DI ou microarray normal |
Genoma (WGS) | Todo o DNA, incluindo regiões não codificantes | Identifica mais 15–25% dos casos não resolvidos | Casos complexos ou mutações raras |
Genotipagem | SNPs relacionados a metabolismo e drogas | Personaliza condutas clínicas | Ajustes de suplementação ou farmacogenética |
Exames genéticos combinados (em cascata):
Os exames X Frágil + Array + Exoma + Genoma → juntos conseguem esclarecer cerca de 40–50% dos casos de crianças com suspeita de autismo/deficiência intelectual.
Esse percentual pode ser maior em coortes bem selecionadas (quando há forte suspeita de síndrome genética) e menor quando o critério de inclusão é apenas “autismo isolado sem outras alterações clínicas”.
📜 Regulamentação no Brasil
Desde 2021, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) incluiu o exoma no rol de procedimentos de cobertura obrigatória pelos planos de saúde, quando solicitado por especialistas e após resultado normal do Array-CGH (RN nº 465/2021).Ele está indicado em casos de TEA associados a deficiência intelectual, epilepsia, dismorfias ou malformações do sistema nervoso.
🚀 Pesquisas, famílias e exemplos inspiradores
Um exemplo inspirador é o Instituto DEAF1, criado por famílias brasileiras, que já financia pesquisas em universidades como USP e Unicamp, além de colaborar com centros nos EUA em parceria com o Dr. Alysson Muotri, que investiga o gene em minicérebros derivados de células-tronco.
Outro destaque é o Instituto Síndrome Mowat-Wilson Brasil, que reúne famílias em torno dessa condição rara, promovendo acolhimento, troca de experiências, divulgação científica e incentivo à pesquisa.
Além desses, muitas mutações genéticas possuem grupos de apoio em mídias sociais, permitindo que famílias brasileiras e internacionais se conectem, compartilhem informações e até mobilizem recursos para financiar ciência.
Essas iniciativas mostram que o diagnóstico genético não é apenas um resultado laboratorial: ele fortalece comunidades, acelera a ciência e dá esperança real às famílias.
📈 Conclusão
Os testes genéticos no autismo não substituem terapias comportamentais ou medicamentosas, mas complementam o cuidado clínico.Eles permitem entender a causa individual do TEA, orientar condutas, favorecer acesso a pesquisas e fortalecer famílias em redes de apoio locais e globais.
A cada avanço científico, cresce a perspectiva de uma medicina de precisão aplicada ao neurodesenvolvimento, que combina ciência, acolhimento e esperança.

Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.






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