Emulsificantes fazem mal? O que diz seu intestino.
- Berenice Cunha Wilke
- 15 de out.
- 4 min de leitura
Emulsificantes: o que são, como podem interferir e como escolher melhor no mercado
Em poucas palavras: emulsificantes são “detergentes alimentares” que ajudam a misturar água e gordura. Eles estabilizam misturas de substâncias que não se combinam naturalmente — como água e óleo — trazendo benefícios tecnológicos aos alimentos industrializados. Eles mantêm a textura uniforme e cremosa, retêm água (melhorando suculência), evitam a separação de ingredientes durante armazenamento/transporte e prolongam a validade ao dar mais estabilidade físico-química ao produto.
Em excesso ou em pessoas sensíveis, podem mexer na interface intestino–microbioma.
Como podem interferir
Barreira intestinal mais frágil (muco + junções): certos emulsificantes podem afinar/desorganizar a camada de muco e alterar as junções apertadas (occludin/claudinas). Com a barreira mais porosa, fragmentos bacterianos e de alimentos atravessam com mais facilidade, aumentando o “ruído” ao sistema imune.
Mudança do microbioma: pode ocorrer menor diversidade, queda de produtoras de butirato (SCFAs), favorecimento de patobiontes e biofilmes mais aderentes → menos SCFAs e mais sinais pró-inflamatórios (ex.: LPS/flagelina).
Modulação da bile e do tráfego de gorduras: a formação de micelas e o perfil de ácidos biliares podem mudar, sinalizando para bactérias e para nossas células, com impacto em motilidade, imunidade e metabolismo.
Desfechos possíveis: Inflamação (intestinal/sistêmica) • Alterações metabólicas (p.ex., pior controle de lipídios e glicose em pessoas suscetíveis)
Exemplos típicos emulsificantes mais agressivos
E466 (CMC),
E433 (polissorbato-80, P80),
E407 (carragena),
E476 (PGPR)
Misturas de mono/di-glicerídeos/ésteres (E471/E472, ex.: DATEM).
Opções geralmente mais neutras em pequenas quantidades: lecitina (E322), pectina (E440), goma arábica (E414).
Estratégia prática
Regra de ouro: comida de verdade como base.
Evite o uso diário e cumulativo - se necessário faça uso apenas esporadicamente.
Consumir menos industrializados e todos com menos de 5 ingredientes e ingredientes conhecidos
Ao comprar processados, prefira versões com lecitina/pectina/goma arábica em vez de CMC/P80/carragena.
Cuide do microbioma: consuma fibras diáriamente (25–30 g/dia, se tolerada) para manter a barreira intestinal mais íntegra com maior resiliência a exposições ocasionais.
Trocas inteligentes:
Sorvete: versões com lista curta (leite/creme, açúcar, cacau/baunilha).
Pão de forma: dê preferência a pães artesanais/fermentação natural (farinha, água, sal, fermento).
Chocolate: ≥70% cacau, idealmente sem PGPR.
Onde eles aparecem? Exemplos de rótulos brasileiros (para você checar)
As fórmulas mudam por lote/marca. Sempre confira o rótulo físico.
Polissorbato-80 (E433 / INS 433)
Balas Halls Menta — “emulsificantes: polissorbato 80 e lecitina de soja”.
Pão de forma Pullman — lista mono/di-glicerídeos, DATEM, estearoil-2-lactil lactato e polissorbato-80.
Pão para hot-dog Wickbold — ingredientes incluem polissorbato-80 com outros emulsificantes.
Sorvetes veganos Haulani (pistache/chocolate/morango & rosas) — estabilizantes E412/E466/E407 e E433 (polissorbato-80).
Carboximetilcelulose / CMC (E466 / INS 466)
Toddynho 200 ml — “estabilizantes: carboximetilcelulose sódica (…) e carragena”.
Creme de Leite Piracanjuba (leve e zero lactose) — cita carragena e carboximetilcelulose sódica.
Sorvetes veganos Haulani — E466 + E407 (e P80).
Carragena (E407 / INS 407)
Sorvete Nestlé (creme 1,5 L) — espessantes goma guar, goma jataí e carragena.
Kibon Cremosíssimo (napolitano 1,5 L) — estabilizantes goma guar, goma jataí e carragena.
Cream cheese/requeijões light (Philadelphia, Danone, Polenghi etc.) — costumam listar carragena (às vezes com goma jataí/xantana).
PGPR (E476)
Chocolate ao leite (diversas marcas): PGPR aparece junto à lecitina para reduzir viscosidade; é comum em chocolates e coberturas.
Margarinas “cremosas” e “originais”: algumas listas de ingredientes citam “ésteres de poliglicerol com ácido ricinoleico” (PGPR).
Mono e di-glicerídeos / ésteres (E471/E472…) — onipresentes em panificados e cremes
Pães de forma (Pullman, linhas próprias de supermercados, etc.) — mono/di-glicerídeos, DATEM (E472e) e afins.
Margarinas (Qualy, Becel, Primor) — frequentemente trazem E471 e/ou PGPR na composição.
Como identificar no rótulo (sinônimos úteis)
Polissorbato-80 = Polysorbate 80, INS 433. Ex.: Halls Menta.
Carboximetilcelulose = CMC, carboximetilcelulose sódica, INS 466. Ex.: Toddynho, Piracanjuba.
Carragena = carrageenan, INS 407. Ex.: sorvetes Nestlé/Kibon; cream cheeses light.
PGPR = poliglicerol polirricinoleato, E476 (às vezes descrito como “ésteres de poliglicerol com ácido ricinoleico”).

Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.
Para saber mais:
Chassaing B, et al. Dietary emulsifiers impact the mouse gut microbiota, promoting colitis and metabolic syndrome. Nature (2015). Nature
Chassaing B, et al. Randomized Controlled-Feeding Study of Carboxymethylcellulose in healthy adults (alterações na microbiota e no metaboloma). Gastroenterology (2022). Gastro Journal
Daniel N, et al. Human Intestinal Microbiome Determines Individualized Inflammatory Response to CMC. Cellular and Molecular Gastroenterology and Hepatology (2024). CMGH Journal
Miclotte L, et al. Dietary Emulsifiers Alter Composition and Activity of the Human Gut Microbiota (revisão). Frontiers in Microbiology (2020). Frontiers
Partridge D, et al. Food additives: assessing the impact of exposure on the gut barrier. Nutrients (2019). PMC
EFSA Panel. Re-evaluation of carrageenan (E407/E407a). EFSA Journal (2018). PMC
EFSA Panel. Re-evaluation of polyglycerol polyricinoleate — PGPR (E476). EFSA Journal (2017); Follow-up/Extensão de uso (2022). Wiley Online Library+1






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