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Bio-MAMPs: o que são e por que estão ganhando espaço na medicina da microbiota

  • Foto do escritor: Berenice Cunha Wilke
    Berenice Cunha Wilke
  • há 7 dias
  • 4 min de leitura

Nos últimos anos, tenho falado muito sobre probióticos, prebióticos e pós-bióticos. Mas existe um grupo especial dentro dos pós-bióticos que tem chamado cada vez mais atenção na pesquisa científica: os Bio-MAMPs.


Eles representam uma nova forma de modular o sistema imune e melhorar a comunicação entre intestino, metabolismo e cérebro — mesmo sem usar bactérias vivas. E para muitas pessoas, isso pode ser exatamente o que faltava.


O que são Bio-MAMPs?

Bio-MAMPs são Microbe-Associated Molecular Patterns, ou seja, padrões moleculares derivados de microrganismos.


São pequenas moléculas presentes na estrutura das bactérias (como Lactobacillus e Bifidobacterium), fungos e vírus que funcionam como “assinaturas” reconhecidas pelo nosso sistema imunológico.


A natureza usa os MAMPs como uma forma de comunicação. Eles avisam o sistema imune que um microrganismo está ali — mas não necessariamente representam perigo.E essa comunicação constante é essencial para o equilíbrio da nossa imunidade e da nossa microbiota.


De onde vêm os Bio-MAMPs?

Eles são obtidos a partir de:

  • fragmentos da parede celular de bactérias benéficas

  • peptidoglicanos

  • lipoteicoicos

  • DNA bacteriano (CpG)

  • muramil-dipeptídeo (MDP)

  • polissacarídeos de superfície

  • proteínas como flagelina


Essas moléculas são purificadas, portanto não contêm células vivas, e funcionam como pós-bióticos de ação direta.


Por que os Bio-MAMPs são importantes?

O ponto mais interessante dos Bio-MAMPs é que eles ativam receptores imunes naturais, chamados PRRs (Pattern Recognition Receptors), que estão espalhados pelo intestino, pela pele e por todo o sistema imune.

Isso desencadeia uma série de efeitos:

1. Treinam o sistema imunológico

Em vez de ativar uma resposta inflamatória, os MAMPs das bactérias benéficas ajudam a desenvolver tolerância imunológica.

Esse é um dos motivos pelos quais pessoas com pouca diversidade intestinal costumam apresentar:

  • alergias

  • intolerâncias

  • pele reativa

  • maior inflamação de baixo grau

Bio-MAMPs podem ajudar a “reensinar” o sistema imune a responder de forma equilibrada.


2. Melhoram a barreira intestinal

Alguns MAMPs estimulam:

  • produção de muco

  • fortalecimento das tight junctions

  • diminuição da permeabilidade intestinal

É exatamente o que muitas pessoas com microbiota empobrecida ou uso de antibióticos precisam.


3. Modulam o eixo intestino–cérebro

Certos MAMPs — especialmente os derivados de Lactobacillus rhamnosus e Bifidobacterium longum — aumentam a sinalização vagal e reduzem marcadores de ansiedade.

Isso explica porque pós-bióticos e probióticos podem ajudar em:

  • ansiedade

  • humor deprimido

  • sono

  • regulação emocional

  • condições neurodesenvolvimentais

Mesmo quando não colonizam o intestino permanentemente.


4. São seguros para pessoas que não toleram probióticos

Algumas pessoas apresentam os sintomas abaixo quando usam probióticos vivos:

  • desconforto intestinal

  • gases

  • distensão

  • piora de dermatite

  • reação a histamina

Nesses casos, Bio-MAMPs são uma alternativa excelente, pois não fermentam, não produzem gases, e ainda assim entregam boa parte dos benefícios.


Bio-MAMPs x Probióticos x Pós-bióticos: qual a diferença?

Categoria

O que é

Vantagens

Limitações

Probióticos

Bactérias vivas

Colonização, produção de metabólitos, ação ampla

Nem todos toleram; instabilidade; sensível ao pH

Pós-bióticos

Metabólitos e fragmentos bacterianos

Alta segurança, estabilidade

Efeito mais pontual

Bio-MAMPs

Padrões moleculares purificados

Imunomodulação precisa, tolerância, barreira intestinal

A pesquisa ainda está crescendo

Bio-MAMPs são uma subcategoria dos pós-bióticos — porém com funções muito específicas e direcionadas.


Quando considerar Bio-MAMPs?

A literatura aponta benefícios em situações como:

  • baixa diversidade intestinal

  • pós-antibiótico

  • alergias e intolerâncias

  • pele reativa ou dermatite

  • ansiedade e estresse

  • síndrome metabólica leve

  • uso de imunomoduladores

  • doenças autoimunes em remissão

  • microbiota com poucos lactobacilos e bifidobactérias

É um recurso interessante quando queremos estimular o sistema imune sem risco de colonização excessiva ou disbiose.


📊 Tabela: Bio-MAMPs, Ações e Indicações Clínicas

Bio-MAMP

Ação Fisiológica Principal

Efeitos Clínicos

Indicações Gerais

Indicações em Obesidade/Metabolismo

L. rhamnosus

Modula eixo intestino–cérebro (GABA)

↓ ansiedade, ↓ cortisol, ↑ regulação emocional

Ansiedade, TDAH leve, tique, humor

Controle da fome emocional, compulsão alimentar

L. helveticus

Reduz hiperexcitação + estresse

↓ eixo HPA, ↑ relaxamento

Ansiedade, irritabilidade, humor deprimido

Auxilia pacientes que comem por estresse

L. casei

Aumenta sinalização vagal

↑ tolerância ao estresse, ↓ impulsividade

Ansiedade, desregulação emocional

Pode melhorar controle alimentar por reduzir impulsividade

L. acidophilus

Imunotolerância (Tregs + TH2↓)

↓ alergias, ↓ prurido, ↓ histamina

Dermatite, alergias, intolerâncias

Indiretamente reduz inflamação metabólica

B. lactis

Anti-inflamatório profundo (TLR9/NOD2)

↑ Tregs, ↓ inflamação, melhora epitélio

Alergias, dermatite, autoimune

Melhora perfil lipídico, reduz inflamação sistêmica e melhora resistência à insulina

S. thermophilus

Anti-inflamatório epitelial

↓ reatividade digestiva, melhora tolerância alimentar

Sensibilidades alimentares, alergias

Útil para reduzir desconfortos pós-prandiais em pacientes em dieta

L. plantarum

Reforça barreira intestinal + reduz IL-6/TNF-α

↓ permeabilidade, ↓ gases, ↓ inflamação

SII, disbiose, pós-ATB

Melhora sensibilidade à insulina, reduz endotoxemia, ajuda na esteatose

L. gasseri

Termogênese + modulação de gordura visceral

↓ gordura visceral, ↓ endotoxemia, ↑ adiponectina

Gases, diarreia funcional, dor visceral

O mais eficaz para obesidade abdominal e síndrome metabólica

Akkermansia muciniphila

↑ mucina (MUC2), ↑ tight junctions, ↓ LPS

Repara epitélio, reduz inflamação

Disbiose, dor abdominal, pós-ATB

Obesidade, resistência à insulina, esteatose, endotoxemia, melhora GLP-1


Conclusão

Os Bio-MAMPs representam uma nova geração de ferramentas para modular a microbiota e treinar o sistema imunológico, com segurança e sem necessidade de usar bactérias vivas.


Eles se encaixam perfeitamente na transição que estamos vendo na ciência do microbioma:uma evolução do probiótico tradicional para uma abordagem mais precisa, mais estável e mais personalizada.


Se você acompanha meu trabalho sobre microbiota, sabe que gosto de trazer essas atualizações de forma simples — mas sempre com base científica.E os Bio-MAMPs, sem dúvida, têm um espaço crescente nos próximos anos como moduladores de saúde intestinal, imunidade e até saúde mental.


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Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.

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