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GENE IQSEC2 E AUTISMO

  • Foto do escritor: Berenice Cunha Wilke
    Berenice Cunha Wilke
  • 18 de mai.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 18 de ago.

As mutações no gene IQSEC2 constituem uma condição genética extremamente rara, conhecida como Transtorno do Desenvolvimento Intelectual Ligado ao X1 ou X78.


Esse gene desempenha um papel fundamental no crescimento e na comunicação das células cerebrais. Por isso, alterações no IQSEC2 podem levar a deficiência intelectual, muitas vezes acompanhada de convulsões e transtorno do espectro autista (TEA).

A alteração no IQSEC2 foi descrita pela primeira vez em 2013, em uma única criança. Até 2024, já haviam sido identificadas mais de 70 variantes distintas, com cerca de 204 pessoas diagnosticadas em todo o mundo.


O diagnóstico é realizado por exame de exoma. Os avanços recentes na genética têm permitido identificar cada vez mais indivíduos com alterações no IQSEC2 e em outros genes associados ao neurodesenvolvimento.


Características Físicas

Embora cada criança com alteração no IQSEC2 seja única, algumas características faciais são relatadas em parte dos pacientes, como:

  • Olhos profundos

  • Lábios carnudos

  • Cabelo frontal levantado


Características Clínicas

  • Atraso no desenvolvimento

  • Deficiência intelectual

  • Dificuldades de fala e linguagem (ou ausência da fala)

  • Convulsões e epilepsia

  • Transtorno do espectro autista ou comportamentos semelhantes

  • Hipotonia (baixo tônus muscular)

  • Regressão de habilidades adquiridas

Outras possíveis manifestações incluem:

  • Marcha atáxica (instabilidade ao caminhar)

  • Sialorreia (babar)

  • Risadas inexplicáveis

  • Problemas de visão e/ou estrabismo

  • Alterações no formato da cabeça

  • Anomalias cerebrais em exames de imagem

  • Dificuldades de alimentação, refluxo e constipação

  • Distúrbios do sono (frequentemente melhoram com melatonina)

  • Escoliose

Diferenças entre os Sexos

Uma revisão recente de 136 indivíduos e 70 mutações distintas mostrou que o autismo está presente em cerca de 25% dos meninos e 30% das meninas com alterações no IQSEC2.


Nas meninas, o quadro clínico é altamente variável: a maioria apresenta comprometimento grave, mas algumas podem ter sintomas leves ou mesmo não serem afetadas. Em geral, elas tendem a ser menos gravemente afetadas do que os meninos, possivelmente por possuírem duas cópias do cromossomo X, o que pode compensar parcialmente a mutação.


No entanto, o IQSEC2 é um gene complexo e ainda não está claro se ele “escapa” ou não da inativação do X — mecanismo que explica a variabilidade de sintomas em outras condições ligadas ao cromossomo X.


Nos meninos, que possuem apenas uma cópia do cromossomo X, o quadro costuma ser mais severo, incluindo maior risco de ausência de fala e dependência de cadeira de rodas.


Função do Gene IQSEC2

O gene IQSEC2 recebeu esse nome por conter duas regiões chamadas IQ e SEC7. Ele codifica a proteína IQSEC2, envolvida na comunicação entre os neurônios e na formação de conexões cerebrais. Quando o gene IQSEC2 não está funcionando corretamente, a proteína IQSEC2 está anormal ou ausente e isso interfere no envio de mensagens químicas no cérebro.


  • Participa da organização do citoesqueleto e da morfologia dendrítica;

  • Atua nas sinapses excitatórias (responsáveis por transmitir estímulos entre neurônios);

  • É importante para o crescimento de espinhas dendríticas, estruturas fundamentais para aprendizado e memória;

  • Tem papel essencial na regulagem de receptores de glutamato.


Embora muito já tenha sido descoberto, a função exata do IQSEC2 ainda não é totalmente compreendida.


Atualmente, não existe uma cura para as alterações no IQSEC2, mas diversos alvos terapêuticos estão em pesquisa:

  1. Atividade SEC7 do IQSEC2 – algumas mutações reduzem sua atividade, enquanto outras (como a A350V) a aumentam. Pesquisas buscam modular essa função de forma personalizada.

    Atualmente a "Johns Hopkins University" e o "Technion Israel Institute of Technology" estão trabalhando no desenvolvimento de um medicamento para regular a atividade Sec7 elevada devido a mutação A350V,

  2. Reciclagem dos receptores AMPA – já existem medicamentos que atuam nesse processo, como:

    • Perampanel (Fycompa) → reduz a reciclagem

    • Ritalina e Aniracetam → aumentam a reciclagem

Neste momento muitas pesquisas estão sendo propostas e algumas já estão em curso para descobrir novos medicamentos ou tratamentos para essa condição.


Além disso, há estudos sobre:

  • Mini-cérebros derivados de células-tronco para compreender melhor o distúrbio

  • Terapia gênica, com os primeiros ensaios em andamento em três laboratórios diferentes

  • Estratégias para aumentar a atividade normal do IQSEC2 em mulheres afetadas

Instituições como a Johns Hopkins University e o Technion Israel Institute of Technology já trabalham no desenvolvimento de terapias específicas para mutações como a A350V.


📌 Resumo:O IQSEC2 é um gene crucial para o desenvolvimento cerebral e sua alteração pode causar deficiência intelectual, autismo e epilepsia, entre outros sintomas. Embora raro, o diagnóstico vem aumentando graças aos avanços em genética. Pesquisas estão em andamento para desenvolver terapias personalizadas e, no futuro, possivelmente a terapia gênica poderá oferecer novas perspectivas de tratamento.

BGVSX, DN: 12/06/2013 - foto gentilemente cedida pela mãe
BGVSX, DN: 12/06/2013 - foto gentilemente cedida pela mãe


LDT, DN 20/07/2021 - foto gentilmente cedida pela mãe
LDT, DN 20/07/2021 - foto gentilmente cedida pela mãe



Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.



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Para obter informações sobre ensaios clínicos conduzidos no NIH Clinical Center em Bethesda, MD, entre em contato com o NIH Patient Recruitment Office:

Ligação gratuita: (800) 411-1222TTY:  (866) 411-1010E-mail:  prpl@cc.nih.gov

Alguns ensaios clínicos atuais também estão publicados na seguinte página do site da NORD:  https://rarediseases.org/for-patients-and-families/information-resources/info-clinical-trials-and-research-studies/

Para obter informações sobre ensaios clínicos patrocinados por fontes privadas, entre em contato:  https://www.centerwatch.com/



Estudos


Levy NS, Umanah GKE, Rogers EJ, Jada R, Lache O, Levy AP.

Int J Mol Sci. 2019 Jun 21;20(12):3038.


Brant B, Stern T, Shekhidem HA, et all.

Mol Psychiatry. 2021 Dec;26(12):7498-7508.


Rogers EJ, Jada R, Schragenheim-Rozales K, et all.

Front Mol Neurosci. 2019 Feb 20;12:43.



Ahrens-Nicklas, R.C.; Umanah, G.K.; et al.

Neurol. Genet.2017, 3, e130.





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