Ansiedade e depressão: o papel dos psicobióticos
- Berenice Cunha Wilke
- 12 de abr. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 20 de nov.
A ciência tem demonstrado que o intestino e o cérebro estão profundamente conectados — é o chamado eixo intestino–cérebro, uma comunicação bidirecional mediada por neurotransmissores, hormônios, inflamação sistêmica e, principalmente, pela microbiota intestinal.
Alterações no microbioma têm sido associadas a sintomas de ansiedade, depressão, alterações no humor e maior resposta ao estresse.Por isso, certas cepas de probióticos passaram a ser estudadas como psicobióticos — microrganismos capazes de influenciar o bem-estar emocional.
COMO O INTESTINO AFETA ANSIEDADE E DEPRESSÃO
1. Produção de neurotransmissores: GABA, serotonina e dopamina
Várias cepas têm capacidade de produzir, modular ou alterar a sinalização de neurotransmissores fundamentais para a saúde mental:
✓ GABA — neurotransmissor inibitório e ansiolítico
Lactobacillus rhamnosus
Lactobacillus brevis
Lactobacillus helveticus
Essas cepas aumentam a produção ou a sinalização de GABA, reduzindo ansiedade e modulando reatividade ao estresse.
✓ Serotonina — humor, sono e bem-estar
Lactobacillus plantarum
Lactobacillus acidophilus
Streptococcus thermophilus
Lactobacillus delbrueckii
Essas bactérias modulam o metabolismo do triptofano, favorecendo a rota serotoninérgica, o que é essencial em quadros depressivos.
2. Modulação da inflamação e da permeabilidade intestinal
A depressão e a ansiedade de base inflamatória estão associadas a:
permeabilidade intestinal aumentada,
maior entrada de endotoxinas na circulação,
ativação imune crônica.
Cepas com melhor evidência nesse campo:
Bifidobacterium longum
Bifidobacterium infantis
Bifidobacterium bifidum
Bifidobacterium breve
Lactobacillus plantarum
Elas reduzem citocinas pró-inflamatórias, reforçam a barreira intestinal e diminuem endotoxemia — mecanismos importantes para depressão inflamatória.
3. Efeitos no eixo HPA (cortisol e resposta ao estresse)
Algumas cepas reduzem a hiperativação do eixo HPA, diminuindo níveis de cortisol e melhorando a capacidade de lidar com estressores.
Destaques:
Bifidobacterium longum
Bifidobacterium breve
Lactobacillus helveticus
Lactobacillus casei
4. Comunicação pelo nervo vago
Os efeitos ansiolíticos e antidepressivos de várias cepas dependem da integridade do nervo vago.
Estudos mostram que Bifidobacterium longum reduz ansiedade via sinalização vagal.
Em modelos animais, a ação desaparece quando o nervo vago é seccionado.
Isso reforça a natureza bidirecional do eixo intestino–cérebro.
CEPAS MAIS ESTUDADAS ESPECIFICAMENTE PARA ANSIEDADE E DEPRESSÃO
Abaixo estão as cepas com melhores evidências integradas:
1. Lactobacillus rhamnosus – 1 bilhão UFC
Aumenta produção e sinalização de GABA.
Reduz ansiedade, estresse e melhora regulação emocional.
2. Lactobacillus plantarum – 1–2 bilhões UFC
Modula rota do triptofano favorecendo serotonina.
Reduz neuroinflamação.
Excelente para sintomas depressivos leves e humor instável.
3. Bifidobacterium longum – 1 bilhão UFC
Um dos probióticos mais estudados em ansiedade.
Reduz cortisol e modula o eixo HPA.
Associado a melhora de humor e ansiedade subjetiva.
4. Lactobacillus helveticus – 1 bilhão UFC
Ensaios clínicos mostram redução de stress psicológico.
Frequentemente combinado com B. longum.
5. Bifidobacterium breve – 1 bilhão UFC
Ação anti-inflamatória e ansiolítica.
Participa da modulação do eixo HPA.
6. Bifidobacterium infantis – 1 bilhão UFC
Efeitos significativos em estresse e inflamação.
Melhora sintomas depressivos associados a inflamação.
7. Bifidobacterium bifidum – 1–2 bilhões UFC
Fortalece a barreira intestinal.
Reduz endotoxinas inflamatórias relacionadas à depressão.
8. Lactobacillus acidophilus
Modula citocinas, auxilia na sinalização serotoninérgica.
9. Lactobacillus casei
Estudos mostram melhora do humor e redução de fadiga mental.
10. Lactobacillus brevis
Produção experimental de GABA.
Suporte para ansiedade leve.
11. Streptococcus thermophilus
Apoia produção de peptídeos bioativos que modulam serotonina.
12. Lactobacillus delbrueckii
Atuação indireta no metabolismo do triptofano.
13. Lactobacillus salivarius
Ação imunomoduladora com impacto indireto na ansiedade.
CONCLUSÃO
Probióticos não substituem medicamentos ou psicoterapia, mas fazem parte de uma abordagem moderna para regular o humor, reduzir ansiedade e modular processos inflamatórios ligados à depressão.
Algumas cepas — especialmente L. rhamnosus, L. plantarum, B. longum, B. breve, B. bifidum e B. infantis — mostram impacto direto em vias de GABA, serotonina, inflamação e sinalização vagal.Com isso, reforçam a importância de uma microbiota equilibrada como parte essencial da saúde mental.

Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.
Para saber mais:
Sanjay Noonan et all
BMJ Nutr Prev Health. 2020 Jul 6;3(2):351-362.






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