Gene DLG2 - conexões sinápticas e distúrbios do neurodesenvolvimento
- Berenice Cunha Wilke
- 18 de mai. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 10 de out.
Atualizado em 10 out 2025: Até hoje não há número oficial; as fontes públicas e artigos somam apenas dezenas — talvez poucas centenas — de pessoas com alterações em DLG2. As alterações no DGL2 podem ser consideradas raríssimas.
O gene DLG2 (Discs Large Homolog 2), localizado no cromossomo 11q14.1, desempenha um papel essencial na formação e estabilização das sinapses, as estruturas que permitem a comunicação entre os neurônios. Ele codifica proteínas da família MAGUK, como a PSD-93 (chapsyn-110), que funcionam como plataformas de ancoragem de receptores e canais iônicos na membrana pós-sináptica.
Alterações na função sináptica — especialmente nas proteínas que regulam a arquitetura sináptica, o tráfego de receptores e a plasticidade neuronal — estão entre os principais mecanismos associados aos transtornos do neurodesenvolvimento.
CNVs e deleções no gene DLG2
As variações no número de cópias de genes (CNVs) são identificadas através do microarray genômico, um exame que detecta deleções ou duplicações submicroscópicas no DNA. As CNVs envolvendo o DLG2 foram inicialmente relacionadas à esquizofrenia, e, em estudos subsequentes, também a transtornos do espectro autista (TEA), deficiência intelectual, TDAH e transtorno bipolar.
Pesquisas recentes mostram que deleções em 11q14.1 atingindo exons do DLG2 podem reduzir a expressão normal da proteína sináptica, causando haploinsuficiência — ou seja, uma única cópia funcional do gene não é suficiente para manter o funcionamento adequado das sinapses.
Dependendo do exon afetado e da isoforma transcrita, os efeitos podem variar desde perda parcial de função até degradação completa do RNA mensageiro. Essa variabilidade explica por que alguns portadores apresentam quadros leves e outros, manifestações complexas.
Principais manifestações clínicas associadas ao DLG2
As deleções ou duplicações envolvendo o DLG2 têm sido associadas a um espectro amplo de manifestações neuropsiquiátricas e físicas. Entre as mais frequentemente descritas estão:
🧠 Deficiência intelectual (leve a moderada)
⚡ TDAH
🌈 Transtorno do Espectro Autista (TEA) e traços autísticos
🗣️ Dispraxia verbal e motora, lentidão cognitiva e dificuldade nas funções executivas
🦶 Alterações de coordenação motora e falta de jeito motora - Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação
🗣️ Distúrbio de linguagem receptivo-expressiva
⚡ Epilepsia focal (menos frequente) e anomalias no EEG
Uma característica quase constante nos casos descritos é a concomitância de múltiplos transtornos do neurodesenvolvimento — por exemplo, TEA associado a TDAH e transtornos de linguagem no mesmo indivíduo.
Distúrbios psiquiátricos e comportamentais
Além dos aspectos neurológicos, muitos portadores apresentam quadros psiquiátricos complexos, frequentemente sobrepostos. Entre eles:
Transtornos de humor e ansiedade
Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
Transtorno opositivo-desafiador
Compulsão alimentar e outros comportamentos impulsivos
Essas manifestações reforçam o papel do DLG2 na regulação das redes sinápticas excitatórias e inibitórias do cérebro, com impacto direto no equilíbrio emocional, atenção e controle de impulsos.
Achados físicos associados
Embora o gene DLG2 seja predominantemente expresso no sistema nervoso central, estudos clínicos também descreveram alterações somáticas, incluindo:
Crescimento pré-natal e pós-natal atípico
Tendência ao sobrepeso e obesidade
Dismorfismos faciais leves
Anomalias cardíacas e endocrinológicas
Essas características não são universais, mas reforçam que as alterações envolvendo o DLG2 podem ter efeitos multissistêmicos, além do cérebro.
DLG2 – status terapêutico (10/10/2025):
Até o momento, não existem medicamentos reaproveitados (repurposed) com eficácia comprovada para alterações em DLG2.
Também não há terapias com células-tronco nem edição gênica por CRISPR clinicamente disponíveis ou aprovadas para DLG2 — essas abordagens permanecem experimentais em modelos celulares e animais.
Assim, o cuidado atual foca no manejo dos sintomas e comorbidades (ex.: TEA, TDAH, linguagem, epilepsia), com acompanhamento multidisciplinar.
Conclusão
O DLG2 é um dos principais genes sinápticos relacionados aos transtornos do neurodesenvolvimento. Deleções em 11q14.1 envolvendo seus exons podem resultar em disfunção sináptica, afetando a comunicação neuronal e a maturação das redes corticais.
O estudo dessas variações genéticas tem permitido compreender melhor a base biológica compartilhada entre autismo, TDAH, epilepsia e distúrbios psiquiátricos — e aponta para a necessidade de avaliações genéticas abrangentes, que incluam o DLG2, em pacientes com quadros neuropsiquiátricos complexos.

Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.
Para acompanhar pesquisas em andamento:
Grupos focados em cromossomo 11 (incluem deleções intersticiais como 11q14/DLG2)
European Chromosome 11 Network – rede de pacientes para todas as alterações do 11q (terminal e intersticiais). Mantém contatos por país e divulga grupos no Facebook e canal no YouTube.
11q Research & Resource Group (11qUSA) – organização dos EUA para famílias com alterações no 11q; site indica presença no Facebook e YouTube. u
11q Latinoamérica – associação latino-americana com perfis em Facebook, X e Instagram.
11q España – associação em espanhol, com Facebook, Instagram, YouTube e X. 11Q España
Para saber mais:
Novel promoters and coding first exons in DLG2 linked to developmental disorders and intellectual disability.
Reggiani C, et all.
Genome Med. 2017 Jul 19;9(1):67.
Enhancing DLG2 Implications in Neuropsychiatric Disorders: Analysis of a Cohort of Eight Patients with 11q14.1 Imbalances.
Bertini V, Milone R, Cristofani P, Cambi F, Bosetti C, Barbieri F, Bertelloni S, Cioni G, Valetto A, Battini R.
Genes (Basel). 2022 May 12;13(5):859.
Simonas Griesius 1, Cian O'Donnell 2, Sophie Waldron 3 4, Kerrie L Thomas 3 5, Dominic M Dwyer 3 4, Lawrence S Wilkinson 3 4 6, Jeremy Hall 3 5 6, Emma S J Robinson 1, Jack R Mellor 7
Neuropsicofarmacologia,.2022 junho;47(7):1367-1378.






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