Ômegas 3 e 6 na proteção cerebral
- Berenice Cunha Wilke
- 7 de jul. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 23 de nov.
Ômega-3 e ômega-6 são ácidos graxos poli-insaturados essenciais — ou seja, nosso organismo não os produz e dependemos da alimentação para obtê-los. Eles são fundamentais para a saúde sistêmica, mas têm um papel ainda mais crítico na estrutura e no metabolismo cerebral, influenciando desde a formação das membranas neuronais até os processos inflamatórios e de reparo.
1. Por que o cérebro precisa tanto de ômega-3?
O cérebro utiliza principalmente ômega-3 de cadeia longa, especialmente:
EPA (ácido eicosapentaenoico)
DHA (ácido docosahexaenoico) — o mais abundante e essencial para o funcionamento cerebral
Na alimentação encontramos:
Ômega-3 de cadeia curta (ALA)— presente em vegetais verdes, linhaça, chia, nozes, soja e alguns óleos.O corpo converte ALA em EPA e DHA, mas essa conversão é muito limitada (aprox. 3% → EPA e <1% → DHA).
Ômega-3 de cadeia longa (EPA e DHA)— presentes naturalmente em peixes de águas frias (salmão, sardinha, atum), frutos do mar e algas.
Por isso, mesmo dietas ricas em fontes vegetais costumam não atingir níveis adequados de EPA e DHA para a saúde neural.
2. E os ômega-6?
Os ômega-6 também podem ser de cadeia curta ou longa:
Ácido linoleico (AL) — presente principalmente em óleos vegetais (soja, milho, girassol)
Ácido araquidônico (AA ou ARA) — a forma de cadeia longa, altamente presente no cérebro
Ácido gama-linolênico (GLA) — encontrado em borragem, prímula e cânhamo
O ácido araquidônico (ARA) é fundamental para o sistema nervoso:ele participa da formação de membranas neuronais e é precursor de moléculas envolvidas em respostas inflamatórias e resolução da inflamação.
3. Ômega-3, ômega-6 e o sistema endocanabinoide
Ômegas 3 e 6 são precursores de uma enorme variedade de metabólitos biológicos. Entre eles estão os endocanabinoides, moléculas produzidas pelo próprio organismo e com função muito semelhante às substâncias derivadas da planta Cannabis.
Os endocanabinoides integram o sistema endocanabinoide, descrito por Vincenzo di Marzo (1988) como um sistema que regula:
Comer
Dormir
Esquecer (principalmente experiências traumáticas)
Relaxar
Proteger (neuroproteção)
Os dois principais endocanabinoides humanos são:
Anandamida
2-araquidonoilglicerol (2-AG)
Ambos derivados diretamente do ácido araquidônico (ARA) — o ômega-6 mais abundante no cérebro.
Já os endocanabinoides derivados de ômega-3 possuem funções ainda em investigação, embora estudos recentes indiquem efeitos anti-inflamatórios e neuroprotetores promissores.
4. Inflamação: o equilíbrio essencial
Ômega-6 → tendem a ser pró-inflamatórios
Ômega-3 → têm ação anti-inflamatória e pró-resolução
Inflamação não é algo ruim: é necessária para defesa, reparo e cicatrização.O problema está no desequilíbrio.
O cérebro é altamente sensível a processos inflamatórios.Por isso, a presença adequada de EPA e DHA é decisiva para:
proteger neurônios
modular a microglia
regular a inflamação
manter o sistema endocanabinoide funcional
favorecer neurogênese, plasticidade e memória
5. Proporção ideal entre ômega-6 e ômega-3
Estudos indicam que a proporção ideal na dieta seria aproximadamente 5:1 (ômega-6 : ômega-3).
Porém, na dieta ocidental atual esta proporção chega a 20:1, devido ao consumo excessivo de óleos vegetais e escassez de EPA/DHA.Esse desequilíbrio contribui para:
inflamação crônica
alteração do sistema endocanabinoide
maior risco de doenças neurodegenerativas e psiquiátricas
Estima-se que o cérebro necessite diariamente:
18 mg de ARA (ômega-6)
4 mg de DHA (ômega-3)
6. Consequências da deficiência de ômega-3
A baixa ingestão de ômega-3 e o excesso de ômega-6 têm sido associados a:
maior risco de depressão
piora das funções cognitivas
maior vulnerabilidade a processos neuroinflamatórios
distúrbios do neurodesenvolvimento
transtornos do humor e da ansiedade
maior risco de doenças neurodegenerativas
O equilíbrio correto entre os dois é essencial para manter a homeostase cerebral.

Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.
Para saber mais:
Clémentine Bosch-Bouju e Sophie Layé DOI: 10.5772/62498 (2016)






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