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Ômega-3, EPA e DHA podem ajudar no tratamento da depressão?

  • Foto do escritor: Berenice Cunha Wilke
    Berenice Cunha Wilke
  • 17 de abr. de 2021
  • 3 min de leitura

Atualizado: 22 de nov.

A depressão é um problema de saúde mundial crescente. Um número cada vez maior de pesquisas mostra uma forte ligação entre sintomas depressivos e inflamação crônica de baixo grau, especialmente em pessoas com depressão resistente ou comorbidades metabólicas.


Entre os nutrientes estudados, os ácidos graxos poli-insaturados ômega-3 (PUFAs) — especialmente EPA e DHA — têm recebido grande atenção devido ao seu papel no cérebro e no controle da inflamação.


EPA e DHA: papéis diferentes na saúde mental

  • EPA (ácido eicosapentaenoico): possui ação predominantemente anti-inflamatória, modulando citocinas e vias envolvidas na neuroinflamação associada à depressão.

  • DHA (ácido docosahexaenoico): é essencial para a estrutura, fluidez e integridade das membranas neuronais, influenciando a neurotransmissão.


Ambos são importantes, mas estudos sugerem que o EPA exerce efeito antidepressivo mais consistente.


O que dizem os estudos?

Em 2019, uma das meta-análises mais robustas de ensaios clínicos randomizados, duplo-cegos e controlados por placebo avaliou a eficácia dos ômega-3 na depressão.Os resultados mostraram que:


Formulações ricas em EPA são mais eficazes

  • EPA puro (≈100% EPA)

  • EPA predominante (misturas contendo ≥60% EPA)


Essas formulações demonstraram melhora clínica significativa dos sintomas depressivos.


Doses eficazes

Os estudos mostraram benefícios com doses entre 180 mg e 1 g/dia de EPA, dependendo do quadro clínico.


DHA não mostrou efeito antidepressivo isolado

Formulações:

  • DHA puro

  • DHA predominante (≥60% do total)

não apresentaram benefícios significativos para depressão quando comparadas ao placebo.


Por que o EPA parece funcionar melhor?

  • Redução de citocinas inflamatórias (IL-6, TNF-α).

  • Modulação da via do ácido araquidônico.

  • Influência sobre neurotransmissores ligados ao humor (serotonina, dopamina).

  • Melhora da comunicação entre neurônios por redução da inflamação nas sinapses.


Ainda assim, novos estudos são necessários para entender completamente os mecanismos cerebrais envolvidos e identificar quais pacientes respondem melhor.


Como escolher um bom suplemento de Ômega-3

Se optar pelo uso, observe:


1. Pureza e segurança

Escolha produtos:

  • livres de metais pesados (mercúrio, cádmio, chumbo),

  • livres de dioxinas e PCBs,

  • com laudos de contaminantes (idealmente IFOS, GOED ou equivalentes).


2. Origem

  • A maioria dos suplementos eficazes usa EPA derivado de peixes.

  • Veganos podem usar ômega-3 de microalgas, porém esses costumam ter mais DHA do que EPA — o que pode limitar o efeito antidepressivo.


3. Embalagem e estabilidade

  • Prefira embalagens opacas ou âmbar, que reduzem oxidação.

  • Certifique-se de que o produto contém antioxidantes naturais (ex.: vitamina E).


4 Tratamento de depressão (EPA é o alvo):

Evidências mostram eficácia a partir de:

  • EPA de 300 mg a 1.000 mg/dia (lembrando: EPA, e não “500 mg de óleo de peixe”).

Para atingir essas doses com cápsulas de 500 mg de óleo comum (100–150 mg EPA), seria necessário:

  • 2 a 6 cápsulas por dia, dependendo da concentração.


E onde entram os fosfolipídeos de caviar?

Nos últimos anos, um composto ganhou destaque na psiquiatria nutricional: os fosfolipídeos de caviar. Eles são uma fonte altamente biodisponível de EPA e DHA ligados a fosfolipídeos, diferente dos ômega-3 tradicionais, que vêm na forma de triglicerídeos ou ésteres etílicos.


Essa forma fosfolipídica apresenta três vantagens importantes:


1. Maior absorção cerebral

O cérebro incorpora preferencialmente DHA ligado a fosfatidilcolina, exatamente a forma encontrada nos fosfolipídeos de caviar.Isso aumenta a entrega de DHA às membranas neuronais, algo essencial para:

  • fluidez da membrana sináptica

  • neuroplasticidade

  • transmissão de serotonina e dopamina

  • estabilização do humor


2. Ação anti-inflamatória potencializada

Como parte das membranas celulares, os fosfolipídeos modulam diretamente vias inflamatórias e podem amplificar a ação do EPA, que é o componente mais associado à melhora da depressão.


3. Menor risco de oxidação

Os fosfolipídeos são estruturalmente mais estáveis à oxidação que os óleos convencionais de peixe, oferecendo um perfil mais seguro e estável — importante para pacientes sensíveis a radicais livres e inflamação.


Evidências atuais sugerem que os fosfolipídeos de caviar podem somar benefícios ao tratamento da depressão, especialmente em:

  • pacientes com neuroinflamação

  • idosos

  • quadros que requerem suporte de neuroplasticidade

  • depressão resistente

  • condições com prejuízo de absorção ou metabolização de gorduras


Eles não substituem o EPA isolado (que é o que apresentou efeito antidepressivo mais robusto), mas podem complementar o tratamento ao favorecer a saúde neuronal e a estabilidade das membranas.


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Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.



Para saber mais:

Liao Y, Xie B, Zhang H, He Q, Guo L, Subramaniapillai M, Fan B, Lu C, Mclntyer RS.

Transl Psychiatry. 2019 Aug 5;9(1):190.

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