O Risco Invisível da Perda de Peso sem Fibras
- Berenice Cunha Wilke
- há 6 dias
- 4 min de leitura
Por Berenice Cunha Wilke
Perder peso sempre foi tratado como uma conta matemática: comer menos, gastar mais. Mas, na prática, o corpo humano não funciona como uma máquina — ele funciona como um ecossistema.
E dentro desse ecossistema existe um protagonista discreto, que quase nunca aparece nas conversas sobre emagrecimento: o microbioma intestinal.
Nos últimos anos, acompanhei muitos pacientes emagrecendo com diferentes estratégias — dietas tradicionais, low carb, jejum intermitente, reeducação alimentar, fitoterpias e,, mais recentemente, com medicamentos como Monjaro, Ozempic e Wegovy. E existe um padrão que sempre aparece:
Quando a perda de peso acontece com baixa ingestão de fibras, o microbioma entra em um colapso silencioso. E isso pode comprometer todo o processo.
🌱 Por que as fibras são tão importantes?
As fibras não servem apenas para “soltar o intestino”. Elas são a principal fonte de alimento das bactérias benéficas, especialmente das que produzem ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs), como o butirato.
Essas fibras são fermentadas pelas bactérias e geram substâncias que:
modulam inflamação,
fortalecem a barreira intestinal,
regulam o metabolismo,
melhoram a sensibilidade à insulina,
e influenciam até o humor e a saciedade.
Sem fibras, essas bactérias passam fome — e o terreno intestinal muda.
🔻 O que acontece quando você emagrece sem fibras?
1. A diversidade microbiana despenca
Dietas muito calóricas, low carb extremas, jejuns prolongados e restrições alimentares rígidas reduzem a variedade de bactérias protetoras. É como reduzir uma floresta a dois ou três tipos de plantas.
Quanto menor a diversidade, maior o risco de:
inflamação silenciosa,
constipação,
intolerâncias alimentares,
pior resposta ao emagrecimento.
2. Aumenta a fermentação proteica — e isso é ruim
Quando falta fibra, o cólon passa a fermentar mais proteínas, principalmente se elas vêm de fontes hiperprocessadas, como:
shakes proteicos artificiais,
barras proteicas industrializadas,
blends adoçados com emulsificantes,
proteínas isoladas sem prebióticos.
Essa fermentação proteica produz compostos tóxicos como
amônia, sulfetos, fenóis e p-cresol. Eles irritam a mucosa, aumentam inflamação e pioram o trânsito intestinal.
3. A barreira intestinal enfraquece
Sem fibras, especialmente as prebióticas solúveis, o muco protetor do intestino se torna mais fino.Isso reduz Akkermansia, Roseburia e Faecalibacterium — três gêneros fundamentais para a integridade da barreira.
Resultado:
mais gases,
maior sensibilidade,
pior digestão,
maior risco de refluxo,
e mais efeitos colaterais com GLP-1 (Mounjaro, Ozempic).
4. O metabolismo desacelera
Um microbioma pobre produz menos butirato e propionato, substâncias que:
regulam fome,
aumentam gasto calórico,
melhoram resistência à insulina,
modulam o eixo intestino-cérebro.
Sem esses metabólitos, o corpo entra em “modo econômico”. Fica mais difícil perder peso e muito mais fácil recuperar.
5. A manutenção do peso se torna quase impossível
O microbioma pós-dieta prediz melhor a manutenção da perda de peso do que a própria dieta aplicada. Ou seja: não é a dieta que determina se você vai engordar de novo — é o estado do seu microbioma no final da dieta.
E microbioma pobre = reganho quase garantido.
🍽️ O papel das fibras nas dietas com Monjaro e Ozempic
Com GLP-1, o esvaziamento gástrico fica mais lento e o apetite diminui. Isso leva muitas pessoas a:
comer menos,
pular refeições,
reduzir frutas e vegetais,
aumentar proteína isolada,
e diminuir drasticamente fibras.
Esse é exatamente o cenário que pode empobrecer o microbioma. Ao contrário do que muitos imaginam, medicamentos como Monjaro ou Ozempic funcionam melhor quando o intestino está saudável e alimentado.
🌾 Quanto de fibra precisamos consumi diariamente?
Mulheres: 25–30 g/dia
Homens: 30–35 g/dia
Ideal: metade fibras solúveis, metade insolúveis.
E elas devem ser distribuídas ao longo do dia, não concentradas em uma única refeição.
🧠 Como proteger seu microbioma enquanto emagrece?
✔️ Inclua fibra em todas as refeições
legumes,
verduras,
frutas,
aveia,
chia,
linhaça,
feijão e lentilha.
✔️ Prefira proteínas naturais
Carnes magras, ovos, peixes, frango e leguminosas.
✔️ Use produtos proteicos comerciais com cautela
Principalmente se tiverem:
adoçantes artificiais,
emulsificantes,
gomas,
estabilizantes,
aromatizantes,
corantes.
Eles saciam, mas não alimentam o microbioma.
✔️ Dê prioridade às fibras prebióticas
Como inulina, goma guar, FOS, polidextrose.
✔️ Respeite a lentificação gástrica dos GLP-1
Coma devagar, em porções pequenas e alimentos úmidos.
🌟 Conclusão: emagrecer é mais do que perder peso — é manter o ecossistema funcionando
Perda de peso sem fibras é como limpar uma casa sem alimentar quem mora nela.Você perde peso, mas perde junto:
diversidade,
resiliência intestinal,
metabolismo estável,
proteção anti-inflamatória.
E isso tem consequências.
Por isso, se existe um pilar que nunca deve ser negligenciado durante a perda de peso — com dieta, jejum, low carb, fitoterapia, Monjaro ou Ozempic — é o cuidado com as fibras e com o intestino.
Alimentar o microbioma é alimentar o próprio processo de emagrecimento. É a diferença entre um resultado temporário e uma mudança definitiva.

Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.






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