Peso - Quando o estilo de vida não basta.

Berenice Cunha Wilke
8 de nov.
4 min de leitura

⚖️ Quando o corpo muda: por que às vezes a alimentação não basta mais para emagrecer

Muitas pessoas conseguem manter o peso equilibrado por anos apenas com alimentação saudável e pequenos ajustes.Mas chega um momento em que, mesmo fazendo “tudo certo”, o corpo parece não responder mais. A fome aumenta, o metabolismo desacelera e o peso volta.

Isso não é falta de disciplina.É fisiologia.O corpo muda o seu ponto de equilíbrio metabólico, o chamado set point — o peso que o cérebro considera “seguro”.

🧠 O que é o ponto de equilíbrio metabólico - set point

O set point funciona como um termostato interno do peso corporal. Ele é controlado por uma conversa contínua entre o intestino, o pâncreas, o cérebro e o tecido adiposo, mediada por hormônios como GLP-1, GIP, leptina, insulina e grelina.

Quando esse sistema está equilibrado, o corpo mantém o peso de forma estável: se comemos mais, o gasto calórico aumenta; se comemos menos, o corpo economiza energia.Mas quando esse diálogo se altera — por dietas repetidas, inflamação intestinal, perda de massa muscular, estresse ou envelhecimento — o organismo redefine o seu ponto de defesa, e passa a lutar para manter um peso mais alto.

🔄 Por que o corpo “sobe” o set point

Com o tempo, fatores como restrições calóricas, inflamação e desequilíbrio hormonal ensinam o corpo a armazenar energia.O hipotálamo, que regula fome e saciedade, interpreta a perda de peso como ameaça à sobrevivência e ativa mecanismos de economia de energia.

Entre os principais fatores estão:

Efeito sanfona: dietas restritivas reduzem o metabolismo basal e elevam a fome.
Resistência à leptina e à insulina: o cérebro deixa de reconhecer que há energia suficiente.
Microbiota desequilibrada e inflamação crônica: enfraquecem os sinais de saciedade.
Alterações hormonais e envelhecimento: reduzem o gasto calórico e aumentam o apetite.

O resultado é um corpo que se opõe biologicamente ao emagrecimento, mesmo com bons hábitos.

💉 Como o Mounjaro (tirzepatida) reprograma o metabolismo

O Mounjaro® (tirzepatida) é o primeiro medicamento a agir simultaneamente nos receptores de GLP-1 e GIP, dois hormônios intestinais que regulam a saciedade e o uso de energia.

O GLP-1 reduz o apetite, retarda o esvaziamento gástrico, melhora a glicemia e diminui o desejo por alimentos gordurosos e doces.
O GIP potencializa a ação da insulina e reduz a fissura por doces e ultraprocessados, atuando no sistema de recompensa do cérebro.

Com essa dupla ação, o Mounjaro restaura a comunicação entre intestino, cérebro e pâncreas, reeducando o eixo metabólico e permitindo que o corpo volte a reconhecer a saciedade de forma natural.Na prática, ele ajuda a redefinir o set point metabólico.

📊 O que mostram os estudos sobre manutenção e interrupção do tratamento

O principal estudo de retirada da tirzepatida, o SURMOUNT-4, publicado no JAMA em 2024, acompanhou 670 pessoas com obesidade.Após 36 semanas de tratamento, os participantes foram divididos em dois grupos:

Um continuou com o Mounjaro.
O outro substituiu por placebo (interrompeu o tratamento).

Os resultados foram claros:

Quem continuou o medicamento manteve a perda de peso e, em alguns casos, perdeu ainda mais.
Quem interrompeu apresentou reganho médio de 14% do peso perdido em 52 semanas.
Apenas 10% dos que pararam conseguiram manter mais de 80% da perda inicial.

A conclusão dos autores foi direta:

“A retirada da tirzepatida levou a reganho substancial de peso, enquanto a continuação do tratamento manteve a maior parte da perda obtida.”

Estudos semelhantes com semaglutida (como o STEP-4) mostraram exatamente o mesmo padrão: interromper leva a reganho, manter o tratamento preserva os resultados.

Até o momento, nenhum ensaio clínico mostrou manutenção estável do peso após interromper a tirzepatida — independentemente do tempo de uso anterior. Ou seja, não existe evidência de que “parar mais tarde” seja diferente de “parar cedo”.

🔁 O que isso significa na prática

A tirzepatida deve ser entendida como uma terapia de longo prazo para reequilibrar o metabolismo. Enquanto ela estiver em uso, o eixo intestino–cérebro permanece regulado:

o apetite fica controlado,
a sensibilidade à insulina melhora,
e o metabolismo permanece ativo.

Ao suspender o tratamento, esses mecanismos voltam a ser guiados pelo set point anterior — o que explica o reganho observado nos estudos.

Por isso, a maioria dos especialistas não recomenda a interrupção do tratamento com o Mounjaro, que deve ser associando à reeducação alimentar, sono adequado, controle do estresse e fortalecimento muscular.

🌿 Em resumo

O Mounjaro não é apenas um medicamento para emagrecer.Ele é uma ferramenta de reprogramação metabólica que restaura a sensibilidade à saciedade e ajuda o corpo a funcionar de forma mais eficiente.

Mas essa reprogramação só se mantém enquanto o estímulo com o monjauro estiver presente. Os estudos mostram que interromper o tratamento leva a reganho de peso na maioria dos casos, independentemente do momento da interrupção.

Por isso, o uso deve ser visto como tratamento crônico de manutenção, individualizado e monitorado, com o objetivo de manter o equilíbrio metabólico a longo prazo — e não apenas atingir um número na balança.

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Entrevista com dra. Berenice

Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.