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  • Foto do escritorBerenice Cunha Wilke

INTOLERÂNCIA À HISTAMINA.

Atualizado: 14 de abr.

As síndromes de intolerância alimentar são relatadas em até 20% da população nos países ocidentalizados, podendo causar uma alteração importante na qualidade de vida das pessoas acometidas.


Durante a última década, a intolerância à histamina ganhou reconhecimento científico, com um aumento significativo no interesse dos pesquisadores em investigar esta doença. Ela pode causar tanto sintomas gastrointestinais, quanto cerebrais, dermatológicos, respiratórios e cardiológicos. Em cada pessoa ela se apresenta de forma diferente o que torna o diagnóstico difícil de ser realizado.


Ela pode ser desencadeada por alimentos por alimentos saudáveis como o tomate, a banana e a beringela entre outros. A enxaqueca após uma noite de vinhos e queijos, o eczema e o prurido na pele após o tomate, um mal estar após o consumo da banana são exemplos comuns.


HISTAMINA


A histamina encontrada no intestino pode ser formada pelo organismo ou vir da alimentação. Ela é formada no nosso organismo a partir da histidina. O excesso da histamina formada é metabolizada pelas enzimas DAO (diamina oxidase) e HNMT (histamina n metil transferase).

A histamina é uma substância química sinalizadora que seu sistema imunológico libera para enviar mensagens entre diferentes células. A histamina tem diversas funções, mas é conhecida principalmente por seu papel em causar sintomas alérgicos e anafiláticos.


As alergias são a reação do seu corpo a uma proteína estranha. Normalmente, estas proteínas (alérgenos) são inofensivas. No entanto, se você tem alergia a uma proteína específica, seu sistema imunológico reage exageradamente à essa proteína dando início a uma cascata de reações leva à liberação de histamina.


Os problemas de saúde ocorrem quando existe um excesso de histamina liberado, ou seja, quando a quantidade de histamina vinda dos alimentos, e/ou produzida pelo organismo, e/ou produzida pela microbiota intestinal é maior do que a capacidade que o organismo tem para metabolizá-la.


A histamina regula inúmeras funções corporais e desempenha um papel fundamental na resposta inflamatória do corpo. O efeito que a histamina tem depende de quais receptores de histamina ela se liga. Os pesquisadores identificaram quatro tipos de receptores de histamina.


Receptores H1

Os receptores H1 são encontrados em todo o organismo, inclusive nos neurônios, nas células musculares lisas das vias respiratórias e dos vasos sanguíneos. A ativação dos receptores H1 causa os conhecidos sintomas de alergia e anafilaxia:

  • Comichão na pele (prurido);

  • Vasodilatação;

  • Pressão arterial baixa (hipotensão);

  • Aumento da frequência cardíaca (taquicardia);

  • Rubor;

  • Estreitamento das vias aéreas (broncoconstrição);

  • Dor;

  • Movimento de fluidos através das paredes dos vasos sanguíneos (permeabilidade vascular).

Algumas dessas alterações corporais resultam em espirros, congestão nasal e coriza (rinorreia).

Fora das reações alérgicas, os receptores H1 também ajudam a regular:

  • Ciclos sono-vigília;

  • Ingestão de alimentos;

  • Temperatura corporal;

  • Emoções;

  • Memória;

  • Aprendizado;

Receptores H2

Os receptores H2 são encontrados principalmente nas células do estômago que liberam ácido, células musculares lisas e células cardíacas. A ativação dos receptores H2 leva a:

  • Secreção de ácido estomacal, que ajuda na digestão;

  • Estimulação das glândulas mucosas das vias respiratórias;

  • Permeabilidade vascular;

  • Hipotensão;

  • Rubor;

  • Dor de cabeça;

  • Taquicardia;

  • Broncoconstrição.

Receptores H3

Os receptores H3 estão envolvidos principalmente na função da barreira hematoencefálica. Eles são encontrados em neurônios do sistema nervoso central. Os receptores H3 regulam a liberação de histamina e neurotransmissores como dopamina , norepinefrina e acetilcolina.

Os pesquisadores estão atualmente estudando medicamentos antagonistas dos receptores H3 para uso potencial no tratamento de doenças neurodegenerativas.


Receptores H4

Os receptores H4 estão presentes na medula óssea e nas células hematopoiéticas e desempenham um papel na formação de certas células sanguíneas.

Eles também desempenham papéis importantes em distúrbios inflamatórios e doenças autoimunes .


SINTOMAS DO EXCESSO DE HISTAMINA


Quando ocorre um excesso de histamina vários problemas de saúde podem ocorrer:

  • Vermelhidão, comichão, urticária;

  • Dor de cabeça, sensação de calor, enxaqueca, vertigem;

  • Corrimento nasal, inchaço da mucosa nasal, dificuldades respiratórias, asma brônquica;

  • Insônia;

  • Inchaço, diarreia, náusea, vômito, dor abdominal, plenitude abdominal, ardor na língua;

  • Queda da pressão arterial, palpitações, arritmia cardíaca, taquicardia;

  • Dismenorreia (distúrbios do ciclo menstrual);

Figura: Principais sintomas da intolerância a

histamina associados aos receptores de histamina.


Cada indivíduo apresenta sinais e sintomas diferentes. Os sintomas aparecem logo após a ingestão de alimentos ricos em histamina, ou de alimentos e/ou medicamentos que contém outras aminas biogênicas que apresentam efeitos semelhantes aos da histamina.


O transporte dos alimentos não adequadamente refrigerados, podem aumentar o teor de determinadas bactérias que produzem histamina e com isso aumentam o teor de histamina dos alimentos.


DIAGNÓSTICO


O diagnóstico é feito através da exclusão de outras causas que possam causar esses sintomas e pelo conjunto de sinais clínicos que ocorrem após a ingestão dos alimentos ricos em histamina (e/ou aminas biogênicas) e que melhoram com a dieta de exclusão da histamina.


Embora não exista um exame laboratorial padrão ouro para o diagnóstico da intolerância a histamina, a análise laboratorial da DAO - atividade da diaminoxidase - pode auxiliar no diagnóstico.


TRATAMENTO


No tratamento é necessário retirar os alimentos com maior teor de histamina ou de aminas biogênicas. O aquecimento não diminui o teor de histamina dos alimentos. Os alimentos congelados tem menor teor de histamina de origem bacteriana.


Existem diversas listas de restrição de alimentos que foram propostas para diminuição do teor de histamina alimentar.


Recomenda-se evitar o consumo de:

  • Alimentos fermentados como:

    • Vegetais fermentados como chucrute, conservas e demais produtos;

    • Fermentados de soja, molho de soja, molho Inglês, Keffir, Kombucha;

    • Vinagre;

    • Vinho;

    • Cerveja;

    • Queijos curados;

  • Queijos duros e semiduros;

  • Peixes oleosos e mariscos de qualquer forma, bem como produtos de carne - de qualquer origem animal - fermentados e/ou crus. As carne e o peixe só podem ser consumidos frescos;

  • Ovos de galinha;

  • Chá Mate;

  • Chocolate,

  • Cogumelos.

Devem também ser evitados os vegetais e frutas que estimulem a liberação de histamina endógena como:

  • Abacate,

  • Abacaxi

  • Ameixa

  • Amendoim,

  • Banana,

  • Berinjela,

  • Espinafre,

  • Frutas cítricas,

  • Mamão,

  • Morango,

  • Pera,

  • Kiwi,

  • Tomate,

Além da retirada dos alimentos histaminérgicos da alimentação é necessário recuperar a saúde intestinal priorizando alimentos frescos, ricos em fibras e evitando adittivos químicos, pesticidas e agrotóxicos.


Alguns medicamentos podem ser incorporados ao tratamento, assim como a suplentação de DAO e outros nutrientes visando a recuperação da permeabilidade intestinal e a recuperação da microbiota intestinal entre outros.





Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.



Para saber mais:


Shulpekova YO, Nechaev VM, Popova IR, et all.

Nutrients. 2021 Sep 15;13(9):3207.


Comas-Basté O, Sánchez-Pérez S, Veciana-Nogués MT, Latorre-Moratalla M, Vidal-Carou MDC.

Biomolecules. 2020 Aug 14;10(8):1181.


Tuck CJ, Biesiekierski JR, Schmid-Grendelmeier P, Pohl D.

Nutrients. 2019 Jul 22;11(7):1684



Arih K, Đorđević N, Košnik M, Rijavec M.

Nutrients. 2023 Oct 2;15(19):4246

Schnedl WJ, Lackner S, et all.

Intest Res. 2019 Jul;17(3):427-433.


Nutrients. 2021 Apr 21;13(5):1395.

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