FERRITINA ALTA - PODE SER HEMOCROMATOSE
- Berenice Cunha Wilke
- 1 de ago.
- 3 min de leitura
Você já ouviu falar em hemocromatose? Essa condição ainda é pouco conhecida, mas pode trazer sérias consequências à saúde se não for diagnosticada e tratada precocemente.
O que é hemocromatose?
A hemocromatose é uma doença metabólica caracterizada pelo acúmulo excessivo de ferro no organismo. Normalmente, a absorção de ferro é rigorosamente regulada, mas na hemocromatose, o corpo absorve muito ferro, que não consegue excretar. Esse excesso se deposita em órgãos como fígado, coração, pâncreas e articulações, podendo levar a danos graves com o tempo.
Existem dois tipos principais:
Hemocromatose primária (hereditária): causada por mutações genéticas, especialmente no gene HFE.
Hemocromatose secundária: decorrente de outras condições, como múltiplas transfusões de sangue, anemias crônicas ou algumas doenças hepáticas.
Por que o ferro se acumula?
Normalmente, nosso corpo regula a absorção de ferro a partir dos alimentos. Na hemocromatose, esse controle falha — o intestino continua absorvendo ferro em excesso, mesmo quando os estoques já estão altos.
Quais são os sintomas?
Os sintomas podem ser inespecíficos no início e se confundirem com várias outras condições. Os mais comuns incluem:
Fadiga crônica
Dores articulares
Perda de libido ou impotência
Alterações na coloração da pele (aspecto bronzeado)
Dor abdominal
Diabetes tipo 2
Aumento do fígado (hepatomegalia)
Insuficiência cardíaca em casos avançados
Quando suspeitar?
A hemocromatose muitas vezes é descoberta por acaso, em exames de rotina, como ferritina alta ou transferrina saturada. É importante suspeitar em casos de:
História familiar da doença
Diabetes precoce associada à alteração hepática
Homens com sintomas de fadiga e disfunção sexual
Mulheres com sintomas após a menopausa (antes disso, a menstruação pode mascarar os sintomas)
Tipos de hemocromatose
Diversas mutações genéticas podem causar um excesso de absorção do ferro, e tipos diferentes de hemocromatose em decorrencia do gene afetado:
Hemocromatose tipo 1 (a mais comum)
Mutação do gene HFE
A pessoa precisa herdar um gene mutante de ambos os pais para ser afetada.
Maior incidência no norte da Europa
Hemocromatose tipo 2 (também conhecida como hemocromatose juvenil)
Hemocromatose tipo 3 (também chamada de hemocromatose por mutação do receptor 2 da transferrina [TFR2])
Hemocromatose tipo 4 (também chamada doença da ferroportina)
Hipotransferrinemia
Aceruloplasminemia
Como é feito o diagnóstico?
Exames laboratoriais iniciais: dosagem de ferritina e saturação da transferrina.
Confirmação genética: pesquisa das mutações no gene HFE, principalmente C282Y e H63D. Cerca de 95% dos caucasianos afetados por essa doença apresentam a mutação C282Y, seja em homozigose, seja em conjunto com a mutação H63D
Avaliação de órgãos-alvo: avaliação do fígado e do coração;
Biópsia hepática, em casos selecionados.
Qual o tratamento?
O tratamento padrão é a flebotomia terapêutica - sangria curativa, ou seja, retirada periódica de sangue, como em uma doação. Isso reduz os níveis de ferro ao longo do tempo.
A detecção precoce da hemocromatose, seguida das flebotomias, pode prevenir danos graves aos órgãos.
Em alguns casos, pode-se usar quelantes de ferro, especialmente quando a flebotomia não é possível.
Além disso, recomenda-se:
Evitar suplementos com ferro e vitamina C em excesso
Reduzir o consumo de álcool
Vacinação contra hepatite A e B, para proteção hepática
Hemocromatose tem cura?
Não tem cura, mas tem controle. Quando diagnosticada precocemente e tratada adequadamente, é possível ter uma vida normal e saudável, prevenindo complicações graves.

Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.






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