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MICROBIOMA E AUTISMO

  • Foto do escritor: Berenice Cunha Wilke
    Berenice Cunha Wilke
  • 25 de ago.
  • 3 min de leitura

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é uma condição de neurodesenvolvimento persistente e de início precoce, caracterizada por desafios de comunicação e interação social, associados a comportamentos restritos, repetitivos e a um processamento sensorial atípico.

Muitos indivíduos com TEA apresentam, além dos sintomas centrais, disfunções gastrointestinais e imunológicas, bem como condições clínicas concomitantes, como distúrbios do sono, epilepsia, ansiedade e seletividade alimentar.


Disfunções gastrointestinais no TEA

Os sintomas gastrointestinais são 4 vezes mais prevalentes no TEA em comparação à população neurotípica. Constipação, diarreia, dor abdominal e refluxo estão entre os mais comuns.

Essas alterações intestinais se correlacionam fortemente com mudanças de comportamento, ansiedade, depressão, irritabilidade, nervosismo, convulsões e distúrbios do sono, sugerindo que em um subgrupo significativo de indivíduos com TEA existe uma interação direta entre disfunção intestinal e cerebral.


O papel do microbioma

O TEA é uma condição heterogênea e multifatorial, envolvendo suscetibilidade genética, fatores ambientais e interações gene-ambiente. Entre esses fatores, o microbioma intestinal tem recebido destaque crescente como um modulador crítico da comunicação intestino-cérebro.

  • Diferenças na composição da microbiota já foram observadas tanto em amostras fecais quanto em biópsias da mucosa ileal, aumentando a consistência dos achados.

  • A microbiota pode ser influenciada por alimentação, uso de antibióticos e outras medicações, comorbidades médicas, genética individual e até localização geográfica.

  • Alterações frequentes incluem menor diversidade bacteriana, presença aumentada de espécies como Clostridium e Desulfovibrio, e redução de bactérias protetoras como Bifidobacterium e Akkermansia muciniphila.

Além disso, em alguns casos o microbioma no TEA apresenta perfil inflamatório, produzindo moléculas pró-inflamatórias (como lipopolissacarídeos) que podem ativar o sistema imunológico e contribuir para inflamação intestinal e cerebral.


Intestino, cérebro e permeabilidade

A barreira intestinal e a barreira hematoencefálica parecem estar interligadas. Quando o intestino se torna mais permeável (“intestino permeável”), moléculas inflamatórias podem atravessar também a barreira que protege o cérebro, favorecendo um estado de neuroinflamação. Esse processo pode contribuir para alterações de comportamento e cognição em pessoas com TEA.


Bactérias-chave no TEA

🔹 Bifidobacterium – produtora de GABA, geralmente reduzida no TEA.

🔹 Akkermansia muciniphila – protege a barreira intestinal; baixos níveis estão ligados à inflamação.

🔹 Lactobacillus reuteri – modulador do eixo intestino-cérebro; pode restaurar comportamentos sociais via aumento da oxitocina.

🔹 Clostridium spp. – em excesso, produzem toxinas e consomem GABA.

🔹 Desulfovibrio spp. – podem liberar compostos tóxicos como sulfeto de hidrogênio.


Possíveis intervenções

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Com a crescente evidência do papel do eixo cérebro-intestino-microbioma no TEA, diferentes estratégias estão sendo estudadas para modular a microbiota:

  • Alimentação diversificada e rica em fibras composta por frutas, legumes, grãos e cereais integrais.

  • Remoção dos alimentos responsáveis por intolerâncias e alergias alimentares.

  • Correção da permeabilidade intestinal;

  • Exame das fezes para avaliar a microbiota intestinal;

  • Prebióticos, probióticos, posbióticos e psicobióticos, que podem melhorar tanto os sintomas gastrointestinais quanto os sintomas comportamentais.

  • Transplante de microbiota fecal (FMT), ainda experimental, mas com resultados promissores em pesquisas iniciais.


Mais estudos de alta qualidade são necessários para compreender em profundidade o microbioma fecal no TEA e seu impacto direto sobre os sintomas neurológicos e comportamentais.





Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.


Para saber mais:


Dig Dis Sci. 2020 Mar;65(3):818-828.


Transl Psychiatry. 2023 Jul 13;13(1):257.


Cell Metab. 2021 Dec 7;33(12):2311-2313.


Roberta Grimaldi, Glenn R. Gibson, et all.

Microbiome volume 6, Article number: 133 (2018)


Taniya MA, Chung HJ, Al Mamun A, Alam S, Aziz MA, Emon NU, Islam MM, Hong SS, Podder BR, Ara Mimi A, Aktar Suchi S, Xiao J.Front Cell Infect Microbiol. 2022 Jul 22;12:915701

 
 
 

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